10 de julho de 2017

Fisioterapia Oncológica Hospitalar - ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE INFUSÃO DE MEDICAMENTOS: COMO LIDAR?

Na rotina hospitalar é bastante comum no momento em que encontramos o paciente, o mesmo estar recebendo um medicamento via endovenosa. Como muitos outros temas abordados aqui, não podemos argumentar a favor de uma forma específica de agir pois além de não ser esse o nosso objetivo, sabemos que muitas regras e condutas exigidas variam de acordo com o profissional e com a instituição. Porém, podemos e devemos refletir sobre diversos aspectos deste contexto. 

Como bons profissionais da saúde que optam por atuar baseado em evidências, fomos procurá-las sobre esse tema, e o já esperando aconteceu; não encontramos estudos relacionando o momento específico do atendimento fisioterapêutico com a infusão medicamentos endovenosos. Os estudos que relacionam o exercício físico com a quimioterapia, por exemplo, se referem ao período de tratamento quimioterápico, podendo levar até mesmo meses, e não o momento exato da infusão. Em relação à este último, não encontramos estudos dizendo que não há riscos, e nem estudos dizendo que há riscos e que devemos evitar. Porém, algo que deve ser bastante considerado é se o medicamento em infusão, (mesmo que interrompido no momento do atendimento) pode gerar efeitos colaterais que algumas vezes, a depender do medicamento e do metabolismo, podem ser acentuados com o esforço físico. Alguns quimioterápicos, por exemplo, podem gerar náusea. E ai vale a pena analisarmos caso a caso: o paciente e a equipe multiprofissional já tem conhecimento de como aquele organismo responde à esse medicamento? O paciente já está habituado a recebê-lo? Se sim, pela sua avaliação, ele tem condições clínica e físicas de iniciar o esforço físico na tentativa de realizar o atendimento? Essa é a questão mais específica que podemos refletir, e que infelizmente nos faltam estudos na área. Então agora vamos tentar analisar um pouco de outros pontos de vistas, os quais já oferecem estudos no tema. 

Nós, fisioterapeutas, não somos responsáveis pela administração de medicamentos e também isso não é da nossa competência. Por isso, provavelmente muitos de nós nunca ouviu falar sobre “cultura de segurança”. Porém, nós temos contato direto e rotineiro com a infusão do mesmo, e assim devemos ter consciência sobre essa cultura. A cultura da segurança do paciente constitui um dos grandes desafios dos cuidados de saúde do século XXI, e tem como definição: “Quando a organizações, as práticas, as equipes e os indivíduos têm uma consciência constante e ativa de que existe um potencial para que erros aconteçam. Quando são capazes de reconhecer os erros, aprender com eles, e implantar ações corretivas.” Importante lembrarmos que ao nos referirmos a um ambiente institucional, tanto os erros como os eventos adversos podem implicar em aumento do tempo de internação, custos assistenciais e muitas vezes, encargos jurídicos.

Agora, considerando a tal cultura de segurança, vamos começar pensando pelo lado do paciente. Sabemos que ao nos depararmos com essa situação, algumas vezes o paciente recusa o atendimento naquele momento até que se termine a infusão completa do medicamento. Outras vezes o paciente solicita que a infusão seja interrompida (obviamente que isso deve ser feito por um profissional capacitado - técnico de enfermagem ou enfermeiro) para realização do atendimento. Porém não são todas as medicações que podem ou devem ser interrompidas, principalmente as de alta vigilância. De acordo com a Joint Commission Resources, 2008 “Medicamentos de Alta Vigilância são medicamentos que possuem um risco maior de causar dano significante ao paciente, quando utilizados erroneamente. Não significa que existe maior ou menor probabilidade do erro acontecer, mas se este acontecer a conseqüência ao paciente é claramente mais grave.” Eletrólitos de alta concentração, insulina, heparina, sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares, quimioterápicos – esses são os principais medicamentos de alta vigilância que lidamos normalmente. Ainda, segundo o farmacêutico especializado em Oncologia, Jefferson Martins, “(...) para alguns medicamentos não é recomendada a pausa de infusão por uma série de motivos, entre eles: estabilidade e tempo de ação no organismo, podendo interferir até mesmo na efetividade terapêutica dos antibióticos.” Além da questão farmacocinética, as interrupções de medicamentos estão relacionadas com 25% das falhas das administrações dos mesmos. Agora vamos pensar juntos; se ao ocorrer uma falha com um medicamento de alta vigilância o dano oferecido ao paciente é maior e mais grave, talvez seja interessante evitarmos essa interrupção, não é mesmo? 

O fator humano é responsável por grande parte das chance de erros, frequentemente envolvendo fatores como a falta de atenção, pouca experiência, conhecimento técnico insuficiente, fadiga no ambiente de trabalho, automatização da tarefa, intimidação ou a relutância em pedir ajuda ou esclarecimentos. Sabemos que há fatores que não dependem de nós e que podem gerar erros e até danos aos pacientes. Porém, se tomarmos maiores cuidados com os fatores que nos envolvem já estaremos eliminando algumas chances de erros, certo? E ai, além dos fatores já citados acima, entram outros dois importantes fatores: a comunicação efetiva e as decisões em equipe multiprofissional. 

Estudos apontam que falhas no trabalho em equipe e na comunicação entre os profissionais de saúde tem sido um dos principais fatores que contribuem para os erros médicos, eventos adversos e, consequentemente, diminuição da qualidade dos cuidados. E comunicação efetiva não é só ter certeza de que algo foi dito. Comunicação efetiva envolve contato dos olhos, escuta ativa, confirmação da compreensão da mensagem, liderança clara, envolvimento de todos os membros da equipe, discussões saudáveis de informações pertinentes, e consciência situacional de todos. 

Pode acontecer de mesmo o medicamento sendo de alta vigilância, o paciente se sentir bastante incomodado com o equipo conectado e ao solicitar sua interrupção os outros profissionais envolvidos, como o enfermeiro, optarem por autorizar a interrupção. Também é importante falarmos um pouco sobre o nosso lado, e lembrarmos que a dinâmica hospitalar atual, pelo menos na maior parte das instituições, normalmente não nos oferece tempo suficiente para retornarmos muitas vezes ao quarto do paciente, ou para aguardarmos o término de uma infusão para iniciarmos o atendimento. E ai encontramos uma boa oportunidade para usarmos a decisão em equipe. Estudos têm demonstrado que o trabalho em equipe resulta em maior produtividade, melhoria na comunicação e tomada de decisões. Além disso, proporciona aos profissionais melhora da autoestima, bem-estar psicológico e apoio social. Assim, mais uma vez, ressaltamos novamente a importância da comunicação efetiva e da decisão em equipe multiprofissional, e aproveitamos para finalizar fazendo você refletir – como podemos planejar a dinâmica de tratamento da melhor forma e com mínimos riscos para o nosso paciente e para a equipe neste momento, e nessas condições?

Até a próxima!!!


Lívia Ribeiro Zalaf
Fisioterapeuta do Hospital Mirante (Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo)
Especialista em Oncologia (UNIFESP/2015)
Graduada na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/2012)
Contato: lizalaf@gmail.com




Colaborador:
Jefferson Martins
Farmacêutico do Hospital Sírio Libanês
Especialista em Oncologia (UNIFESP/2015)
Graduado pela Universidade Mackenzie (2011)
Mestrando em Gastro Oncologia (UNIFESP, em andamento).
Contato: jsm.farmaceutico@gmail.com

Referências:

1- Aula disponível em PDF - Boas Práticas na Administra Administração de Medicamentos Medicamentos - Aline Pardo de Mello - VI Simpósio Internacional de Enfermagem, 2012.

2- NOGUEIRA, J. W. S. et al. COMUNICAÇÃO EFETIVA NO TRABALHO EM EQUIPE EM SAÚDE: DESAFIO PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE. Cogitare Enferm. 2015 Jul/set; 20(3): 636-640

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