30 de junho de 2014

É seguro mobilizar um paciente com Cateter Femural?

Olá pessoal, o tema de hoje é inspirado em uma situação que ocorreu em uma UTI do hospital em que fiz residência. A equipe na época, se deparou com a situação de que o restante da equipe não nos deixava mobilizar um dos pacientes, pois o mesmo estava com um Cateter na Veia Femural.

Justificativas foram várias: "Ah, vai translocar o cateter", "Ele (cateter) foi tão ruim de passar, vamos deixar quieto.", "Eu NUNCA vi ninguém mobilizando alguém com cateter!", "Vão acabar fazendo um trombo no Central.".

Mas será que essas justificativas têm algum fundamento, ou apenas estamos nos deparando com o medo do novo?

Para ser sincero, até a nossa equipe (Fisioterapeutas) ficou com dúvidas quanto ao assunto, então fomos levantar referências que sustentassem (ou não) a nossa terapia.

Conseguimos achar três trabalhos, inclusive um brasileiro, muito interessantes que verificaram a segurança e a viabilidade de se mobilizar pacientes com Cateter Femural.

Um dos estudos foi feito em Houston e tem um brasileiro como um dos autores (nosso amigo Dr. Kenji Nawa), avaliou prospectivamente 77 pacientes que possuíam Cateter Femural num total de 92 cateteres (50 arteriais, 15 venosos e 27 de diálise). Foram realizadas um total de 210 sessões de Fisioterapia, que incluíram Sedestação no leito, Sedestação na poltrona, Ortostatismo e Deambulação. O resultado? NENHUM evento adverso como remoção do cateter ou evento tromboembólico foi encontrado. Vale ressaltar que nas sessões, além do Fisioterapeuta tinha uma Enfermeira acompanhando.

O outro estudo foi feito no Johns Hopkins e também teve corte prospectivo. Eles avaliaram 239 pacientes também com Cateter Femural (81% eram venoso, 29% arterial e 6% de diálise). Foram realizadas 101 sessões de Fisioterapia que incluíram Sedestação, Deambulação, Cicloergômetro de MMSS e Cinesioterapia no leito. O resultado não foi diferente do estudo anterior, 0% de efeitos adversos. E olhem que a atividade mais realizada foi o Ortostatismo/Deambulação.

O estudo brasileiro foi realizado no HC-FMUSP. Foi realizada uma análise retrospectiva que encontrou 1.268 sessões de fisioterapia motora, neste estudo, a minoria dos pacientes possuíam a região femural como sítio de inserção do acesso. Os eventos adversos relacionados à inserção dos dispositivos ocorreram em apenas 20 pacientes, totalizando 22 ocorrências: 32% (infecção), 32%(obstrução) e 32%(retirada acidental). Verificou-se que não existe relação entre eventos adversos nos cateteres e a realização de fisioterapia motora.

Esses resultados só mostram o quanto a Mobilização Precoce pode ser segura e viável, o máximo de tecnologia utilizada foi o Cicloergômetro de MMSS.

Acho que cabe a nós o papel de educação da equipe quanto o assunto é Mobilização, nós que temos que saber as indicações, contraindicações, cuidados, entre outros. 

Então, vamos mobilizar nossos pacientes?!

Até a próxima.

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP

LinkedIn: Caio Veloso da Costa





Referências.

1- Perme C, Nalty T, Winkelman C, Nawa RK, Masud F. Safety and Efficacy of Mobility Interventions in Patients with Femoral Catheters in the ICU: A Prospective Observational Study. Cardiopulm Phys Ther J.2013;24(2):12-17.

2- Damluji A, Zanni JM, Mantheiy E, Colantuoni E, Kho ME, Needham DM. Safety and feasibility of femoral catheters during physical rehabilitation in the intensive care unit. Journal of Critical Care.2013;28(4):535

3- Lima NP, Silva GMC, Park M, Pires-Neto RC. Realização de fisioterapia motora e ocorrência de eventos adversos relacionados a cateteres centrais e periféricos em uma UTI brasileira. J. bras. pneumol. 2015;  41( 3 ): 225-230.

8 de junho de 2014

Como prescrever a minha terapia? Physical Function ICU Test.

Olá pessoal. Prescrever tratamento fisioterápico no hospital, principalmente em UTI não é tarefa das mais fáceis, porém deve ser um dos nortes que devemos seguir.

Existem algumas ferramentas que podem nos auxiliar nessa tarefa. Vou discutir um pouco sobre uma dessas.

A Physical Function ICU Test é uma proposta, bem interessante, de um grupo de Fisioterapeutas australianos capitaneados pelas Professoras Elizabeth H Skinner, Linda Denehy entre outros. O objetivo delas, foi criar um instrumento que fosse a base para uma prescrição de exercício em pacientes internados em UTI.

O teste tem quatro itens que são avaliados: De sentado para em pé, Cadência em Marcha estacionária (passos/min), Força de Extensores de Joelho e Força de Flexores de Ombro.

1. De sentado para em pé: Com os pacientes na poltrona, é avaliado a necessidade de ajuda por uma ou duas pessoas, para o paciente ficar de pé (0-3, sendo 0= Não realiza mesmo com auxílio de duas pessoas  e 3= sem ajuda);

2. Cadência em Marcha Estacionária: Número máximo de passos possível sem tempo limite. Avaliado a cadência (0-3, sendo 0= Nenhum passo e 3= Acima de 80 passos/min.;

3. Força de Extensores de Joelho e Flexores de Ombro: Utilizado a Avaliação de Oxford, neste teste (0= Grau 0, 1 e 2 e 3= Grau 5).




Após a avaliação se tem um Escore de  0 a 12 (original) ou de 0 a 10 (modificado).


Mas como isso poderia nos ajudar a prescrever a nossa terapia?

Após a proposta de criação deste instrumento, também foi proposta uma intervenção através da escala, por meio de um estudo piloto.

A prescrição foi feita da seguinte forma:

1. 3 séries de 70% do tempo máximo no teste de Marcha estacionária com um tempo máximo de 15 minutos sempre tentando manter a cadência média encontrada;

2. Não conseguindo ficar 15 minutos Marchando ou Deambulando, tentava-se complementar a terapia com Treino de Sentar-Levantar até se obter 15 minutos de terapia;

3. Mesmo não conseguindo com essas duas terapias combinadas, era acrescentado Exercício de flexão de ombro sem resistência até se obter os 15 minutos;

4. A terapia foi feita por 6 dias/semana, uma vez ao dia se o paciente estava em Ventilação, progredindo para duas vezes se o paciente estava a mais de 4 horas por dia fora da VM;

5. O momento de avaliação inicial foi quando os pacientes eram traqueostomizados e o reteste feito após o Sucesso no Desmame.

6. Posteriormente o objetivo era aumentar gradualmente para 30 minutos e depois para 60 minutos.












Apesar de simples e de só tomar 15 minutos com o paciente, o resultado foi promissor, conforme a tabela a terapia resultou em um incremento muito bom no número de passos dados, bem como houve melhora na cadência e no tempo de execução, além disso houve melhora no número de repetições de flexão de ombro.

Além disso foi feita correlação com outros testes para verificar a Utilidade Clínica, a Segurança, Reprodutibilidade e Validação (na Austrália). Foi encontrada Moderada Correlação do Teste com os Testes Timed up and go, Teste de Caminhada de 6 Minutos e MRC, além disso, foi encontrado que quanto maior o score na admissão, maior chance de alta para casa e menor tempo de internação hospitalar. 

Além dos resultados positivos, os estudos realizados foram Ensaios Clínicos Randomizado, um deles cego com amostra calculada e as Características Demográficas eram semelhantes. Foram excluídos os pacientes com FiO2 acima de 60%, PEEP maior que 8 cmH2O e lesão permanente (como TRM ou AVE extenso), além disso eram retirados temporariamente aqueles que instabilizavam. Isso nos dá uma tranquilidade maior na análise dos dados.

Bom pessoal, espero ter ajudado vocês a ter um norte para a partir de agora, prescrever a nossa terapia e garantir um melhor tratamento para os pacientes, pois eles merecem.

Até a próxima.

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Pronto Atendimento Sanca Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
Professor da Liga Nacional da FisioIntensiva
LinkedIn: Caio Veloso da Costa


Referências.
1. Skinner EH, Berney S, Warrillow S, Denehy L. Development of a physical function outcome measure (PFIT) and a pilot exercise training protocol for use in intensive care unit. Crit Care and Resusc. 2009;11(2):110-115
2. Denehy L, Berney S, Skinner E, et al. Evaluation of exercise rehabilitation for survivors of intensive care: protocol for a single blind randomised controlled trial. Open Crit Care Med J. 2008;1:39–47.
3. Denehy L, de Morton NA, Skinner EH, Edbrooke L, Haines K, Warrillow S, Berney S. A Physical Function Test for Use in the Intensive Care Unit: Validity, Responsiveness, and Predictive Utility of the Physical Function ICU Test (Scored). Phys Ther. 2013;93(12):1-10.