29 de abril de 2016

Mas, e a Mobilização Passiva?

Olá colegas!

A Mobilização Passiva de pacientes críticos é uma das técnicas mais executadas nesse perfil de pacientes. Apesar de amplamente observada no Brasil, na Austrália, apenas 14% dos Fisioterapeutas relatam fazer a Mobilização Passiva de forma rotineira.

Mas qual o objetivo real de se fazer essa estratégia terapêutica? Quais os benefícios a curto e longo prazo? Como fazer? Quanto fazer? São muitas perguntas e vamos aos estudos.

Apesar de fazer parte da imensa maioria dos protocolos de Mobilização Precoce, a literatura sobre Mobilização Passiva não é extensa.

Um estudo clássico é o Physiological responses to passive exercise in adults receiving mechanical ventilation, publicado em 2013. Nele, foi demonstrado que a Mobilização Passiva reduz marcadores inflamatórios (interleucinas 6 e 10) e dor, mas sem alterações hemodinâmicas (frequência cardíaca, pressão arterial média e saturação periférica de O2). Nesse estudo é importante ressaltar que o tempo de mobilização foi de 20 minutos nos MMII.

Em estudo brasileiro semelhante, 13 pacientes em ventilação mecânica e com nível de sedação de 4-6 na Escala de Ramsay, foram submetidos a 5 minutos de Mobilização Passiva de MMII + 10 minutos de repouso + 5 minutos de MMSS. Foi observado aumento da frequência cardíaca, do duplo produto e do consumo ou captação de oxigênio pelo miocárdio, mas sem alteração da pressão arterial média. 

Já no estudo Mechanisms underlying ICU muscle wasting and effects of passive mechanical loading, 7 pacientes em VM foram submetidos a Mobilização Passiva em apenas 1 dos MMII, sendo o outro, o controle. Foi realizada mobilização por 10 horas por dia, isso mesmo, 10 horas por dia, divididas em 4 sessões de 2,5 h, por 7 a 11 dias. Os resultados foram impressionantes, já que a força específica do membro mobilizado foi 35% maior que o controle, mas ambos os membros, tiveram perda de massa muscular.

A despeito desses resultados e da duração da terapia utilizada nos 3 estudos, ainda não sabemos se a utilização dessa modalidade terapêutica possui algum efeito benéfico na Funcionalidade, Força ou Capacidade Funcional. Outra coisa que temos que ter em mente é: temos tempo de realizar de 10 a 20 minutos para cada paciente, além de dispender tempo para a realização da Terapia Respiratória para todos os pacientes que não conseguem sair do leito?

Terapias como Eletroestimulação Neuromuscular e Cicloergômetro possuem mais evidências de eficácia em desfechos de interesse como os citados acima, além de cada vez mais, estarem acessíveis nas UTI's.

Temos que ter completo entendimento sobre os efeitos das nossas terapias, pois Fisioterapia baseada em evidências, é terapia segura e eficaz.

Até a próxima!!!


Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa




Referências:

1- Wiles LStiller KPassive limb movements for patients in an intensive care unit: a survey of physiotherapy practice in Australia. J Crit Care. 2010 Sep;25(3):501-8.

2- Amidei C,Sole ML. Physiological responses to passive exercise in adults receiving mechanical ventilationAmerican Journal of Critical Care. 2013;22:337-49.

3- Freitas ERFS, Bersi RSS, Kuromoto MY, Slembarski SC, Sato APA, Carvalho MQ. Efeitos da mobilização passiva nas respostas hemodinâmicas agudas em pacientes sob ventilação mecânica. Rev Bras Ter Intensiva. 2012; 24(1):72-8.

4- Llano-Diez M, Renaud G, Andersson M, et al. Mechanisms underlying ICU muscle wasting and effects of passive mechanical loading. Critical Care. 2012;16(5):R209. doi:10.1186/cc11841.

25 de abril de 2016

Criação de protocolos de mobilização aumentam a Taxa de deambulação precoce?

Olá colegas.

Muitos estudos já demonstraram a eficácia e efetividade da Mobilização Precoce em pacientes críticos. Mas temos que lembrar que esses resultados são obtidos através de Mobilização Precoce protocolar e sistematizada.

Se tomarmos um indicador de qualidade, Deambulação dentro de 72 horas e a criação de um Protocolo de Mobilização, teremos algum resultado?

No Central DuPage Hospital, Illinois-EUA, foi criado uma sistematização de avaliação e protocolo de mobilização multidisciplinar. Foi elaborado através da sistemática Planejar-Piloto-Avaliar-Implementar.

Foi um estudo coorte pré-pós, onde foram avaliados 193 pacientes internados na UTI e 349 na semi-intensiva no período pré e 426 pacientes na UTI e 358 na semi-intensiva no período pós-implementação. A idade média dos pacientes foi de 67 anos.

No período pré-protocolo, a taxa de deambulação dentro de 72 horas nos pacientes da UTI, foi de 6,2%, já no período pós, houve um incremento para 20,2%. Nos pacientes das unidades semi-intensivas, a taxa cresceu de 15,5% para 71,8%. 

Esses resultados corroboram a necessidade de criação e implementação de protocolos de mobilização sistematizada, bem como acompanhamento de indicadores de qualidade e treinamento constante da equipe para que possamos ofertar de forma mais ampla, uma terapia de qualidade e segura para a maioria dos nossos pacientes.

Até a próxima!!


Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa




Referência:

1- Drolet, A., DeJuilio, P., Harkless, S., Henricks, S., Kamin, E.,Leddy, E. A., Lloyd, J. M., Waters, C., & Williams, S. (2013). Move to Improve: The Feasibility of Using an Early Mobility Protocol to Increase Ambulation in the Intensive and Intermediate Care Settings. Physical Therapy. 2013; 93(2):197-207.

23 de abril de 2016

Hiperinsuflação mecânica e higiene brônquica.

Olá colegas.

O arsenal de Manobras de Higiene Brônquica para pacientes em VM é vasto.

Uma proposta da equipe da UTI do Hospital de Clínicas de Porto Alegre é aumentar o nível de Pressão de Suporte como adjuvante nessa terapêutica.

O estudo Compressão torácica com incremento da pressão em ventilação com pressão de suporte: efeitos na remoção de secreções, hemodinâmica e mecânica pulmonar em pacientes em ventilação mecânica, publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia em 2014, propôs avaliar o efeito do aumento do nível de Pressão de Suporte em 10 cmH2O do basal durante a manobra de compressão torácica.

O Grupo controle foi submetido apenas a Compressões torácicas.

Foram avaliados 34 pacientes com desfechos parâmetros hemodinâmicos e de mecânica respiratória, assim como a quantidade de secreção aspirada.

Como resultado, os pacientes submetidos ao aumento do nível de PS tiveram maior quantidade de secreção aspirada (1,9 g vs. 2,3 g; p = 0,004), maior aumento da variação na Complacência dinâmica (0,1 ± 4,9 cmH2O vs. 2,8 ± 4,5 cmH2O; p = 0,005) e maior aumento da variação da média do volume corrente expirado (16 ± 69 mL vs. 56 ± 69 mL; p = 0,018).

Já no estudo Hyperinflation using pressure support ventilation improves secretion clearance and respiratory mechanics in ventilated patients with pulmonary infection: a randomised crossover trial, publicado Australian Journal of Physiotherapy, avaliou a Hiperinsuflação com o ventilador mecânico associada ao decúbito lateral vs Decúbito lateral. A manobra foi mantida por 30 minutos.

O grupo submetido à manobra de hiperinsuflação teve 1.3 ml a mais de secreção retirada, bem como teve maior incremento da Complacência (4.7 ml/cmH2O maior).

Mas a dúvida que fica é: Esse incremento pressórico levaria a maior lesão pulmonar devido a maior proporção de Stress-Strain, ou por ser uma manobra momentânea esses efeitos são menos pronunciados?

Já utilizei essa manobra na minha prática e observei bons resultados. 

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa




Referências:

1- Naue WS, Junior LAF, Dias AS, Vieira SRR. Compressão torácica com incremento da pressão em ventilação com pressão de suporte: efeitos na remoção de secreções, hemodinâmica e mecânica pulmonar em pacientes em ventilação mecânica. J Bras Pneumol. 2014;40(1):55-60

2- Lemes DA, Zin WA, Guimaraes FS. Hyperinflation using pressure support ventilation improves secretion clearance and respiratory mechanics in ventilated patients with pulmonary infection: a randomised crossover trial. Aust J Physiother. 2009;55(4):249-54.

20 de abril de 2016

Fisioterapia na "Tracheostomy Team"

Saudações caros colegas!
Em muitos hospitais, o Fisioterapeuta ainda é aliciado a participar do procedimento de Traqueostomia na beira do leito. As justificativas são muitas: "Ah, vocês têm um jeitinho especial de desinsuflar o cuff e puxar o tubo", "Me sinto mais seguro com vocês por perto", "Quem vai desconectar o ventilador senão vocês?".
Isso é uma situação que gera alguns constrangimentos, visto que alguns gestores colocam a participação no procedimento de traqueostomia como sendo obrigatória para o Fisioterapeuta, mesmo havendo um Parecer da Assobrafir que verse sobre a não-obrigatoriedade da nossa participação (Parecer 004/2013).
Conversando com muitos colegas, uma ideia parece ser unânime: Por que não existe um "Fisio da Tráqueo"? Será que daria certo? Existe isso em algum lugar?
O Hospital Credit Valley, em Ontário-Canadá criou um Time de Traqueostomia composto de um Cirurgião, um Terapeuta Respiratório e um Fonoaudiólogo, que tinha como objetivo, além de realizar o procedimento, realizar o manejo, desmame e decanulação da traqueostomia.
Foi realizado um estudo coorte no modelo Pré-Pós. O Time foi implantado em Outubro de 2011, sendo coletados dados de Dois anos antes da implementação para comparação.
A criação do Time foi capaz de reduzir o Tempo para Troca da cânula (ex. por obstrução etc) - 22,9 vs 36,2 dias p= 0,01, ou seja 13 dias a menos; também foi capaz de reduzir o Tempo TQT - Desmame da VM - 11,3 vs 28,8 dias p= 0,03 (17 dias a menos). O Tempo total de traqueostomia foi 4,5 dias maior no período Pós-implementação do Time, porém sem diferença significante (p=0,62), talvez pela utilização de maior critério na tomada de cada decisão. Outros desfechos como queixa na deglutição também apresentaram bons resultados, mas sem diferença estatística.
Mas daí surgem algumas perguntas: Esse Time consegue ser Custo-Efetivo? Vale a pena contratar e manter esses profissionais na nossa realidade?
Conheço colegas que esfaqueariam outros para poder participar desse Time...
O que acham?
Até a próxima!
Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa


Referência:
1- Welton C, Morrison M, Catalig M, Chris J, Pataki J. Can an interprofessional tracheostomy team improve weaning to decannulation times? A quality improvement evaluation. Canadian Journal of Respiratory Therapy: CJRT = Revue Canadienne de la Thérapie Respiratoire : RCTR. 2016;52(1):7-11.

17 de abril de 2016

VNI no Trauma Torácico - Tórax instável ainda é indicação de intubação?

Olá colegas!!!
Algumas bibliografias ainda trazem o Tórax instável como indicação de VMI, mas essa recomendação é baseada em evidências atuais?

O uso de Ventilação Não Invasiva vem sendo descrito recentemente como medida terapêutica, em alternativa à IOT e as evidências nem são tão atuais assim...

Em estudo realizado na Turquia e conduzido por Gunduz et al., foi comparado o uso de CPAP (22 pacientes) vs IOT (21 pacientes) em pacientes com Tórax instável e com sinais clínicos de Insuficiência Respiratória Aguda (FR> 25 rpm, SpO2< 90% com Oxigênio complementar acima de 10 L/min e PaO2/FiO2 < 200 com FiO2 de 100%). Foi encontrado uma menor Taxa de Pneumonia (4 vs 10 p= 0,001) e uma Menor Mortalidade (2 vs 10) nos pacientes que utilizaram a VNI, porém sem diferenças no Tempo de internação hospitalar.

Em outro estudo, realizado por Bolliger e Van Eeden,  a VNI também foi favorável em desfechos como Mortalidade (0% vs 6%), Tempo de internação hospitalar (5,3% vs 9,5%) e Taxa de Pneumonia (14% vs 49%). Vale ressaltar que neste estudo, o grupo que foi randomizado para VMI, tinha menor nível de consciência. 

Nos estudos de coorte conduzidos por Vidhani et al. a Mortalidade foi menor quando foi utilizada a VNI (0% vs 50%), já no estudo de Linton et al. o Tempo de internação hospitalar (7 vs 12 dias) e a Taxa de Pneumonia (0 vs 38%) foram menores. Lembrando que a inferência de eficácia com o uso da VNI fica prejudicado, dado o desenho do estudo.

Quando comparado o uso da VNI com Oxigenoterapia de alto fluxo, a Taxa de IOT foi menor (12% vs 40% p=0,02), bem como o Tempo de Internação (14 vs 21 dias p=0,001).

Então, começa a se abrir mais uma indicação de VNI nos Prontos Socorros do Brasil.

Até a próxima!!!


Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa




Referências:

1- Karcz MK, Papadakos PJ. Noninvasive ventilation in trauma. World Journal of Critical Care Medicine. 2015;4(1):47-54.
2- Duggal A, Perez P, Golan E, Tremblay L, Sinuff T. Safety and efficacy of noninvasive ventilation in patients with blunt chest trauma: a systematic review. Critical Care. 2013;17(4):R142. 
3- Hernandez G, Fernandez R, Lopez-Reina P, Cuena R, Pedrosa A, Ortiz R, Hiradier P. Noninvasive ventilation reduces intubation in chest trauma-related hypoxemia: a randomized clinical trial. Chest.2010;17:74–80. doi: 10.1378/chest.09-1114.
4- Bolliger CT, Van Eeden SF. Treatment of multiple rib fractures: randomized controlled trial comparing ventilatory with nonventilatory management. Chest. 1990;17:943–948.
5- Gunduz M, Unlugenc H, Ozalevli M, Inanoglu K, Akman H. A comparative study of continuous positive airway pressure (CPAP) and intermittent positive pressure ventilation (IPPV) in patients with flail chest. Emerg Med J. 2005;17:325–329.


13 de abril de 2016

Trials que vem por aí: CYCLE Study: Cicloergômetro + Fisioterapia vs Fisioterapia.

Saudações colegas!!!

Tanto a Mobilização Precoce como o Cicloergômetro já se mostraram eficazes em reduzir tempo de internação hospitalar/UTI, tempo de ventilação mecânica, aumento de força, qualidade de vida e capacidade funcional para pacientes críticos, agora vem a pergunta: Qual das terapias é mais eficiente?

O estudo CYCLE, será um Ensaio Clínico Randomizado conduzido no Canadá, que tem como autora principal, a Dra Michelle Kho, seu grupo é um dos mais estudam a Mobilização Precoce no mundo. Este é apenas um estudo piloto de um maior que teve amostra calculada em 504 indivíduos.

Serão avaliados 60 pacientes de 7 UTI's. O Grupo Experimental, receberá Cicloergômetro (30'/dia por 5 dias/semana, por no máximo 28 dias) + Mobilização. O Cicloergômetro será interrompido, se o paciente conseguir deambular por pelo menos dois dias seguidos. A Mobilização será composta pela rotina de atividades que visem a manutenção, ou melhora de força e saída do leito. O Grupo Controle receberá apenas Mobilização. A Mobilização dos dois grupos será realizada por Fisioterapeutas experientes e com treinamento específico em Mobilização Precoce.

Serão incluídos os pacientes de perfil clínico-cirúrgico, nos primeiros 4 dias de VM ou 7 dias de UTI, que eram capazes de deambular antes da internação. Os critérios de exclusão serão condições que impeçam a realização do Cicloergômetro (ex. Fratura de MMII), alterações neuromusculares como Síndrome de Guillain-Barré, não compreender a língua inglesa, marcapasso temporário, pacientes em cuidados paliativos e expectativa de morte > 90%.

Os critérios de não realização para as Terapias serão: Droga vasoativa em ascensão até 2 horas antes, Evento agudo (IAM, Arritmia), PAM < 60 ou > 110 mmHg, FC< 40 ou > 140 bpm, SpO2< 88%, Utilização de bloqueador neuromuscular até 4 horas antes, RASS> +2 (agitação psicomotora), Dor, Critérios discutidos em equipe multiprofissional (ex. hemorragias, peritonite, rabdomiólise etc) ou Recusa do paciente/familiar.

Os critérios de interrupção serão: Sinais de arritmia ou isquemia miocárdica, assincronia, queda na SpO2 para menos de 88%, agitação, remoção de catéteres ou tubos, instabilidade hemodinâmica (bradi-taquicardia e/ou hipo-hipertensão) e pedido do paciente/familiar para encerramento. 

Os desfechos avaliados serão: Mobilidade pela escala Physical Function ICU test, Força Muscular pela MRC, Força específica de Quadríceps através de uma plataforma de força, Capacidade Funcional pelos Teste de Caminhada de 2' e Teste de Sentar-Levantar de 30",  Atividade de Vida Diária pela escala Katz, Stress psicológico na UTI pela escala Intensive Care Psychological

Assessment Tool (IPAT), Qualidade de vida pela escala  EuroQOL 5DL, Tempo de UTI/ internação hospitalar, Tempo de VM e Mortalidade.

Os desfechos serão avaliados de forma cega, mas as Terapia não serão.

O estudo é muito interessante pois estamos saindo da eficácia, para a eficiência na Mobilização Precoce.

Vamos aguardar os resultados.

Texto em colaboração com os colegas do Estudo PROMOVE: Ângello Roncalli, Wesla Neves, Ivens Giacomassi e Fernando Batista.

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa






Referência
1- Kho MEMolloy AJClarke FHerridge MSKoo KKRudkowski JSeely AJPellizzari JRTarride JEMourtzakis MKarachi TCook DJCanadian Critical Care Trials GroupCYCLE pilot: a protocol for a pilot randomised study of early cycle ergometry versus routine physiotherapy inmechanically ventilated patientsBMJ Open. 2016 Apr 8;6(4):e011659.

8 de abril de 2016

FISIOTERAPIA NO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO

Olá colegas, mais uma vez trazemos a nossa parceira Lívia Zalaf, que sempre aborda a temática de Fisioterapia Oncológica. Desta vez, ela aborda a Fisioterapia nos cânceres de cabeça e pescoço.

O câncer de cabeça e pescoço é atualmente considerado um problema de saúde pública, representando cerca de 5% das neoplasias, e atingindo cerca de 1,7% na população brasileira. A incidência aumenta com a idade e sua ocorrência é maior em pessoas acima de 50 anos, sendo a maior parte dos diagnósticos tardios e envolvendo: pele e lábios, cavidade oral, orofaringe, laringe, hipofaringe, nasofaringe, glândulas salivares, cavidade nasal e seios paranasais, meato acústico externo e ouvido médio.
Como principais fatores de risco temos principalmente o tabagismo e o etilismo, sendo que 90% dos pacientes apresentam história prévia de tabagismo. Viroses (vírus de Epstein -Barr), exposições ocupacionais, (refinarias, marcenarias e fábricas de artigos de couro e trabalhadores em minas de asbestos), exposição à radiação ionizante, à radiação solar, e a suscetibilidade genética também são fatores de risco importantes. 
Os sinais e sintomas da doença, no geral, possuem manifestação precoce em função da alta sensibilidade das regiões acometidas, sendo o sintoma mais comum a rouquidão.  Alguns locais tendem a ter surgimento e evolução da doença de forma mais silenciosa, como a base da língua, e o prognóstico varia com o local e o estadiamento da doença. 
O diagnóstico do câncer de cabeça e pescoço e seu tratamento impactam diretamente na qualidade de vida do paciente, podendo promover alterações funcionais, relacionadas à respiração, alimentação, comunicação e à interação social. As opções convencionais de tratamentos do câncer de cabeça e pescoço são cirurgia, radioterapia, quimioterapia e iodoterapia. Somado à esses temos a fisioterapia, que tem sido cada vez mais reconhecida e valorizada ao melhorar a qualidade de vida desses pacientes. 
Pacientes com tumores malignos de cabeça e pescoço podem apresentar disfunções respiratórias em função da compressão das vias aéreas pelo tumor. A cirurgia pode ser uma opção de tratamento, com ressecção parcial ou total do tumor, e possível necessidade de colocação da traqueostomia. 
A traqueostomia (TQT) diminui o trabalho respiratório e a resistência das vias aéreas, é melhor tolerada por pacientes conscientes, e previne danos à laringe. Porém, Gomes (2011), mostrou em seu trabalho que a TQT pode gerar eliminação da atividade da musculatura cervical e dos músculos laríngeos, supressão da função glótica e aumento significativo da elastância pulmonar, favorecendo a queda do quadro respiratório e corroborando no aumento da morbidade e mortalidade dos pacientes com neoplasia de cabeça e pescoço. É ai que nós, fisioterapeutas, entramos com um papel crucial nesses pacientes.
 Enquanto o paciente ainda está no hospital é importante além da higienização da TQT (lembrando que a equipe de enfermagem também deve ser treinada e capaz de realizar), as manobras de higiene brônquica e as manobras e de reexpansão pulmonar. Se o paciente se apresenta secretivo, é importante a nebulização para manter a via umidificada e evitar a formação de rolhas. A fisioterapia também tem importante papel com no fortalecimento muscular da região cervical e facial e na melhora da função pulmonar, sendo uma boa opção a cinesioterapia respiratória. Fornecer orientação e educação do cuidado e higiene dos pacientes e seus cuidadores com o orifício traqueal também é muito importante. Mesmo que um serviço home care esteja disponível em sua casa, é importante que o paciente (ou cuidadores) domine os cuidados básicos com sua traqueostomia, isto é: higienização peri-traqueo e aspiração caso necessário ou para higienização. Em relação ao cuff, alguns pacientes são orientados e dominam esse cuidado, porém é algo mais específico e que por poder variar de acordo com a evolução do paciente (usar o cuff insuflado ou desinflado) exige avaliação mais frequente da nossa parte. É importante lembrar que apesar de existir um consenso na literatura em relação à pressão ideal de cuff (cerca de 20 a 30 mmhg), esses pacientes podem apresentar alterações mecânicas que tornem essas pressões consensuais inadequadas, sendo assim muito importante uma avaliação minuciosa e individualizada.
Em relação a alimentação, os tumores de cabeça e pescoço podem gerar importante perda da capacidade de mastigação, deglutição e redução da produção de saliva, reduzindo a ingesta de alimentos e muitas vezes levando à caquexia (perda de peso, atrofia muscular, fadiga, fraqueza, perda de apetite e desnutrição aguda). A caquexia pode trazer complicações como a perda de massa muscular e consequentemente da força muscular global. A importância da fisioterapia nesse fator se dá pela capacidade que o exercício físico tem na manutenção do peso corporal total e nas funções neuromusculares, diminuindo a caquexia e a fadiga e atuando diretamente no bem-estar e na qualidade de vida desses pacientes.
A fisioterapia também pode e deve atuar na redução e alívios dos efeitos colaterais e adversos da quimioterapia como a constipação, náusea, dor, fadiga e neuropatia. 
 Para a constipação, podemos realizar a massagem intestinal (movimentos circulares com as mãos no sentido horário, permeando os cólons ascendente, transverso e descendente, por um período de cinco a dez minutos, preferencialmente 30 minutos após as principais refeições, quando os reflexos gastrocólico e duodenocólico estão mais frequentes). Apesar de não haver evidência consistente na literatura sobre a eficácia dessa técnica, a mesma pode ser valorizada se pensarmos que além de ser um procedimento simples, não invasivo, de baixo custo, sem muitas contraindicações, e sem maiores efeitos deletérios, possui a explicação lógica e razoável de agir sobre o sistema nervoso parassimpático, que é responsável por estimular a motilidade do trato gastrointestinal, acelerando o trânsito do bolo fecal.
A fisioterapia também tem um importante papel já conhecido na analgesia. Lembrando que a dor no câncer pode decorrer desde a infiltração (invasão) neoplásica dos tecidos, de procedimentos terapêuticos, bem como de síndromes paraneoplásicas. A termoterapia por calor promove a vasodilatação, o relaxamento muscular, a melhora do metabolismo e circulação local, a extensibilidade dos tecidos moles, a alteração de propriedades viscoelásticas teciduais e a redução da inflamação. O alongamento muscular também auxilia no relaxamento da musculatura e na consequente redução de algia. Já a crioterapia é indicada em disfunções musculoesqueléticas, traumáticas, inflamatórias incluindo processos agudos. É importante lembrarmos que no caso do calor, o uso dessas técnicas é contra-indicado na região direta do tumor, pois o calor provoca uma vasodilatação que pode oferecer riscos na disseminação de células tumorais por via linfática e hematogênica (estudos questionam essa contra-indicação, porém, por falta de evidência é preferível ter esse cuidado). 
Outra técnica bastante utilizada para a analgesia é a Estimulação Nervosa Transcutânea (TENS) que ativa o sistema supressor da dor e produz uma sensação que interfere na sua percepção. É uma técnica analgésica simples e não invasiva e que pode ser aplicada até mesmo pelos próprios pacientes ou cuidadores quando bem orientados. Paciente com tumores de cabeça e pescoço podem apresentar algias em locais não aplicáveis para o TENS em função de sua anatomia, porém podemos pensar no alívio álgico ao realizarmos em musculaturas próximas do local direto da doença, como o músculo trapézio. 
Para a náusea, estudos recentes mostram eficácia no uso do TENS no ponto de acupuntura chamado PC6, localizado próximo às pregas do punho, para redução da sensação de náusea e vômitos associados à quimioterapia. 
A fisioterapia na fadiga oncológica possui um papel muito importante e por isso já foi tema de um texto único nesse blog (não esqueça de revê-lo!). Mas para relembrarmos brevemente:  a mesma também é efeito colateral da radioterapia, manifesta-se entre 75% e 95% dos doentes, e pode ser definida como uma persistente e subjetiva sensação de cansaço relacionada à doença ou ao seu tratamento interferindo no desempenho das atividades de vida diárias. A partir da cinesioterapia podemos proporcionar mobilidade, flexibilidade, coordenação, aumento da forca muscular e resistência à fadiga. Exercícios passivos, exercícios resistidos com carga aumentando gradativamente, exercícios ativos livres, alongamento, cuidados posturais, fortalecimento muscular e exercícios de grandes grupos musculares também mostraram-se benéficos. Lembrando, é claro, que o paciente oncológico pode ter sua fadiga atribuída à diversas causas, merecendo uma boa avaliação. 
Em relação à fisioterapia na neuropatia, é mais presente na literatura atual estudos relacionados à neuropatia diabética do que à neuropatia secundária à quimioterapia. Porém, os mesmos indicam resultados interessantes alcançados pelo tratamento fisioterapêutico como a melhora da sensibilidade térmica, funções musculares, sensação de dormência, formigamento, queimação e equilíbrio estático, além de contribuir para a mobilidade (GOMES, 2007; SILVA, 2009). 
Apesar de todas as técnicas e evidências que a fisioterapia disponibiliza para o tratamento do paciente oncológico de cabeça e pescoço, gosto sempre de reforçar que o paciente oncológico é um paciente diferente daquele que sofreu um evento-doença e se insere rapidamente em um processo de reabilitação. Não só pela questão patológica desse paciente possivelmente já ter um gasto enérgico intrínseco importante em função da doença ativa e por isso necessitar de um tratamento fisioterapêutico cauteloso que respeite sempre seu momento, mas também pelo tratamento oncológico ser, na grande maioria das vezes, um tratamento que dura meses e até anos. Isso faz com que o paciente e seus cuidadores/ familiares modifiquem suas rotinas, seus hábitos e suas vidas em torno do tratamento, causando impactos e possíveis complicações cognitivas, afetivas e comportamentais à todos e tornando-se assim crucial o trabalho contínuo, integrado e humanizado de uma equipe multiprofissional. 


Lívia Ribeiro Zalaf
Fisioterapeuta do Hospital São José (Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo)
Especialista em Fisioterapia em Oncologia pela UNIFESP (2015)
Fisioterapeuta formada na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/2012)
Contato: lizalaf@gmail.com



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

BARROS, et al. Implicações da traqueostomia na comunicação e na deglutição. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 3, p. 202 - 207, julho / agosto / setembro 2009

BATTAGLINI et al. Atividade física e níveis de fadiga em pacientes portadores de câncer. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 10, Nº 2 – Mar/Abr, 2004

BEJE, et al. Risco de aspiração para o paciente de alta complexidade em terapia intensiva – Revisão Sistematizada da Literatura.  Journal Of Especialized Nursing Care. Vol 7, No 2 (2015)

BRAZ, M. M. et al. Massage effects on abdominal constipation: a systematic review. BIOMOTRIZ ISSN: 2317-4367 V.7, N. 01, 2013

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