20 de junho de 2016

Hiperinsuflação manual como técnica de remoção de secreção: Como estamos fazendo?

Olá caros colegas.

Na postagem Hiperinsuflação mecânica e Higiene brônquica, discutimos sobre a utilização de parâmetros de ventilação mecânica com o objetivo de se promover remoção de secreção. Fatores como melhor limite de pressão de vias aéreas e ausência de necessidade de desconexão do ventilador, constituem fatores importantes que devemos considerar para otimizar a segurança do paciente.

Além do ventilador mecânico, o ventilador manual (dispositivo bolsa-válvula-máscara), comumente chamado pelo nome de um dos fabricantes (Ambú®) é amplamente utilizado para promover remoção de secreção. Mas como estamos utilizando esta ferramenta?

O estudo brasileiro Estudo experimental sobre a eficiência e segurança da manobra de hiperinsuflação manual como técnica de remoção de secreção, testou a eficiência e segurança desta técnica com o intuito de aumentar a remoção de secreção, em duas condições diferentes: Hiperinsuflação Manual (HM) realizada de acordo com a prática clínica diária dos fisioterapeutas e HM realizada de acordo com as recomendações de especialistas. A eficiência da HM foi determinada pela análise do volume e dos padrões de fluxo gerados em relação aos efeitos previstos sobre a remoção de secreção. O estudo compreendeu duas fases, avaliando os efeitos da HM, realizada por fisioterapeutas, na promoção da remoção de secreções pulmonares. Na primeira fase, os fisioterapeutas não receberam nenhuma instrução verbal sobre como aplicar a manobra. Na segunda fase, os fisioterapeutas receberam instruções baseadas em recomendações de especialistas.

A manobra foi aplicada por oito fisioterapeutas experientes, com uma média de 2,6 anos de prática em UTIs na cidade de São Paulo. Cinco dos oito haviam se formado em universidades localizadas no estado de São Paulo, e todos haviam concluído um dos programas de treinamento de pós-graduação em fisioterapia respiratória, com duração de um ano, oferecidos por hospitais universitários.

Em ambas a fases do estudo, a resistência e a complacência do modelo pulmonar foram alteradas para simular três cenários clínicos: um paciente com doença pulmonar obstrutiva (resistência de 20 cmH2O/L por segundo e complacência de 0,08 L/cmH2O); um paciente normal (resistência de 5 cmH2O/L por segundo e complacência de 0,05 L/cmH2O); e um paciente com doença pulmonar restritiva (resistência de 5 cmH2O/L por segundo e complacência de 0,025 L/cmH2O).

Foi encontrado um dado interessante, durante a fase pré-instrução, seis dos oito fisioterapeutas realizaram HM usando duas compressões do ressuscitador e produziram um Pico de Fluxo Inspiratório - PFI mais alto do que o Pico de Fluxo Expiratório - PFE (1,84 L/s vs 1,04 L/s p < 0,02) e isso é justamente o contrário do que deve ocorrer para se obter um deslocamento de secreção para vias aéreas mais proximais, ou seja, o PFE deve ser Maior que o PFI durante a manobra e vai de encontro à descrição original da manobra, que deve ser feita com uma inspiração lenta e profunda, com uma pausa inspiratória e uma rápida liberação do ressuscitador. Os autores atentam para este fato e fazem a hipótese de que a manobra aplicada dessa forma (aplicando duas compressões do ressuscitador, sem pausa inspiratória, fazendo com que o PFI seja mais alto que o PFE) estimula a tosse. 

Claro que este é um estudo experimental, mas nos alerta para como estamos realizando a nossa terapia no cotidiano, bem como as técnicas estão sendo ensinadas no ambiente acadêmico.

Até a próxima.

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa




Referências: 

1- Ortiz TA, Forti G, Volpe MS, Carvalho CRR, Amato MBO, Tucci MR. Estudo experimental sobre a eficiência e segurança da manobra de hiperinsuflação manual como técnica de remoção de secreção. J. bras. pneumol. 2013 ; 39( 2 ): 205-13.

2- Clement AJ, Hübsch SK. Chest physiotherapy by the ‘bag squeezing’ method: a guide to technique. Physiotherapy. 1968;54(10):355-9.

3- Denehy L. The use of manual hyperinflation in airway clearance. Eur Respir J. 1999;14(4):958-65.

4- McCarren B, Chow CM. Manual hyperinflation: a description of the technique. Aust J Physiother. 1996;42(3):203-8.

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