29 de junho de 2015

Vamos falar de Inspirações Profundas?

Olá colegas, imagino que a maioria de vocês já tenha escutado falar, visto alguém fazer ou fez as famigeradas Inspirações Profundas em pacientes em ventilação espontânea. Essa talvez seja uma das técnicas mais usadas dentro do hospital, fazendo parte de protocolos e do nosso cotidiano. Mas em que estamos nos baseando para o uso corriqueiro desta técnica?

O objetivo da técnica é o de reduzir complicações respiratórias pós-operatórias e relacionadas ao imobilismo como Atelectasias, Pneumonia, Insuficiência Respiratória, entre outras que podem se instalar após cirurgias torácicas e abdominais. 
Essas situações culminariam com redução de função pulmonar (Volumes e Capacidades) e tendencia de aumento no tempo de internação hospitalar.

Uma das primeiras descrições do uso de Inspirações Máximas foi em 1954 por Thorén et al., onde a técnica proposta foi capaz de minimizar atelectasia, dispneia, melhorar oxigenação e manter o volume pulmonar. Mas fazendo uma análise de evidências atuais, podemos verificar que o panorama é muito diferente.

A primeira análise é que o MESH Term Deep breathing em todos os ensaios clínicos, revisões e guidelines nos últimos 10 anos é descrito como exercícios com utilização de Pressão Positiva ou Resistência inspiratória, ou seja, algo muito diferente das Inspirações em Tempos e associadas a elevação dos membros superiores. 

O segundo ponto é que alguns estudos ao fazer comparação dessas técnicas com Deambulação precoce em pós-operatórios, estão encontrando:

1- Deambulação + Inspirações Máximas vs Deambulação somente = Redução de complicações pulmonares e alta precoce para ambos as intervenções;
2- Deambulação vs Inspirações Máximas somente = Superioridade da Deambulação em reduzir complicações pulmonares e alta precoce;
3- Pressão positiva é eficaz no pós-operatório de cirurgias torácicas.

O guidelines da American Association of Respiratory Care no Effectiveness of Nonpharmacologic Airway Clearance Therapies in Hospitalized Patients recomenda como intervenção a Deambulação, NÃO recomendando o uso de Inspirômetros de incentivo de rotina ou profiláticos, e isso caros colegas, é justamente o contrário do andamos vendo e/ou fazendo...

Recentemente foi publicado o estudo brasileiro Comparison of lung expansion techniques on thoracoabdominal mechanics and incidence of pulmonary complications after upper abdominal surgery: a randomized and controlled trial, na revista Chest.
Foi avaliado o uso do Técnicas de Expansão Pulmonar para se prevenir Complicações Pulmonares (Atelectasia, Pneumonia e Hipoxemia) no pós-operatório de cirurgia abdominal alta. Foram testados quatro grupos: Inspirações Profundas, Inspirometria de Incentivo à Fluxo, Inspirometria de Incentivo à Volume e Controle, por 3 vezes ao dia, durante 5 dias.
O resultado foi que NÃO houve diferença entre os grupos nas Complicações pulmonares, bem como na Ativação Muscular Inspiratória (eletromiografia de superfície) e Volumes pulmonares (pletismografia) com taxa de complicações pulmonares ligeiramente maior no grupo Inspirações Profundas.
Mensagem dos autores: As Técnicas de Expansão Pulmonares não deveriam ser prescritos rotineiramente para prevenção de complicações pulmonares pós-operatórias de cirurgia abdominal alta.

Além deste resultado, a Revisão Sistemática com Metanálise da Cochrane Incentive spirometry for prevention of postoperative pulmonary complications in upper abdominal surgery (Review) encontrou resultados semelhantes. O uso de inspirações profundas ou de incentivadores respiratórios, tanto à volume como à fluxo, NÃO apresentam evidência de eficácia nesse perfil de pacientes quanto a prevenção de complicações pulmonares. Até o momento, a Saída do leito permanece como a estratégia mais eficiente para a prevenção dessas complicações.
Fica a reflexão.

Até a próxima!!!


Caio Veloso da Costa

Fisioterapeuta da UTI do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela - AL
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP

LinkedIn: Caio Veloso da Costa



Referências:

1- Thoren L. Post-operative pulmonary complications: observations on their prevention by means of physiotherapy. Acta Chir Scand 1954;107:193-205.
2- Nascimento Junior PMódolo NSAndrade SGuimarães MMBraz LGEl Dib R. Incentive spirometry for prevention of postoperative pulmonary complications in upper abdominal surgeryCochrane Database Syst Rev. 2014 Feb 8;2:CD006058.
3- Westerdahl E, Lindmark B, Eriksson T, Friberg Ö, Hedenstierna G, Tenling A. Deep-Breathing Exercises Reduce Atelectasis and Improve Pulmonary Function After Coronary Artery Bypass Surgery. Chest. 2005;128(5):3482-8.
4- Westerdahl E. Optimal technique for deep breathing exercises after cardiac surgery. Minerva Anestesiologica. 2015;81(6):678-83.
5- Silva YR, Li SK, Rickard MJ. Does the addition of deep breathing exercises to physiotherapy-directed early mobilisation alter patientoutcomes following high-risk open upper abdominal surgery? Cluster randomised controlled trialPhysiotherapy. 2013 Sep;99(3):187-93.
6- AARC Clinical Practice Guideline: Effectiveness of Nonpharmacologic Airway Clearance Therapies in Hospitalized Patients. Respiratory Care.  58(12):2187-93.
7- Lunardi AC, Paisani DM, Marques da Silva CC, Cano DP, Tanaka C, Carvalho CR. Comparison of lung expansion techniques on thoracoabdominal mechanics and incidence of pulmonarycomplications after upper abdominal surgery: a randomized and controlled trial. Chest. 2015 May 14. doi: 10.1378/chest.14-2696.
8- do Nascimento Junior P, Módolo NS, Andrade S, Guimarães MM, Braz LG, El Dib R. Incentive spirometry for prevention of postoperative pulmonary complications in upper abdominal surgery. Cochrane Database Syst Rev. 2014 Feb 8;2:CD006058.


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