18 de janeiro de 2015

Times de Mobilização, será este o caminho para a Qualidade da Mobilização?

Olá colegas!

No post A Mobilização que você faz, Faz a diferença!, comentamos sobre como uma Mobilização Simples traz bons resultados. 

A literatura relacionada ao tema está em uma crescente, bem como o reconhecimento da importância de se ter Fisioterapeutas em UTI's para este fim.

Mas será que tanto conhecimento gerado está implicando em Mobilizações efetivas nos nossos pacientes?

Um estudo realizado nos EUA, encontrou uma prevalência de Mobilização de apenas 13% do total de pacientes das UTI's, e a média de sessões foi de 1 (uma?) por dia e somente de segunda a sexta-feira, já que esta é a Jornada de Trabalho do Fisioterapeuta lá. Já na Europa e Austrália, a presença é diária, mas com turno que vai das 8h às 17h. 

Queen Elizabeth Hospital Birmingham (Inglaterra), se propôs a instituir um Protocolo de Qualidade para a Mobilização Precoce. Este hospital possui 75 leitos de UTI, de perfil misto, atendendo especialidades (Clínica Médica, Hepatologia, Trauma, Queimados, Neurocríticos e Pós-operatório de Cirurgia abdominal alta).

Figura 1 
O Protocolo era baseado com dimensionamento de 1 Fisioterapeuta para 10 pacientes, e sessões de 20-30 minutos para cada paciente, da Segunda até a Sexta-feira das 8h até as 17h. Nos fins de semana a equipe era reduzida (conforme jornada da equipe).

Todos os pacientes com previsão de ficar pelo menos 5 dias na UTI entravam no protocolo, excluindo os pacientes com contra-indicações para mobilização, Grande queimado ou com Funcionalidade comprometida previamente à admissão.

Foi criado um Time de Mobilização (Fisioterapeuta e Enfermeiro), onde houve treinamento específico baseado nos 4 "E's" (Engage: Engajamento dos participantes , Educate: Processo teórico e reflexivo, Execute: Aplicação do protocolo e Evaluate: Avaliar resultados e correção do planejamento).

Quando os pacientes estavam sedados, foi realizada Mobilização Passiva e Posicionamento funcional. Quando acordavam iniciavam os exercícios ativos e Sedestação na beira do leito, progredindo para Terapia Resistida e Saída do Leito - Sedestação em Poltrona, Ortostatismo e Deambulação (Fig 1). 

Figura 2
A Mobilização foi feita mesmo com a presença de Cânula Orotraqueal, Traqueostomia, Diálise e uso mínimo de Inotrópicos ou Vasopressores. Mas também houveram restrições (Fig 2).

O protocolo teve início em Abril de 2012 com coleta de 1 ano, sendo utilizado o mesmo período do ano anterior como comparação. Foram avaliados Tempo de internação hospitalar e de UTI, Mortalidade e Status funcional através da Manchester Mobility Score - MMS .

Foram estudados 582 pacientes, destes 427 foram mobilizados, sendo 225 após a implantação do Protocolo. 


Os resultados foram muito interessantes, pois o Número de sessões foi de 3.243 (de um total de 202 pacientes) antes do protocolo, para 4212 (de um total de 225 pacientes) após a implantação. O tempo para o início de Mobilização foi menor (6,2 dias vs 9,3 dias p=0,001), O score da MMS na alta da UTI foi maior (5 vs 3 p=0,05) e o Número de sessões de Fisioterapia aumentou de 0,95 para 1,3 por dia.

Um dado interessante, foi que os pacientes atendidos após a implementação do protocolo eram mais graves (APACHE 18 vs 16), mesmo assim o Tempo de internação na UTI foi menor (14,4 vs 16,9 dias p=0,007).

Esses resultados demonstram como a criação de um Protocolo pode melhorar a assistência aos pacientes e com desfechos interessantes.

Além disso, mostra que as UTI's brasileiras (não todas) estão a frente dos países de 1º mundo, já que a presença de Fisioterapeutas aqui é de no mínimo 18 horas, todos os dias. Porém não podemos nos esquecer que existem dois profissionais análogos ao Fisioterapeuta brasileiro, que são o Terapeuta Respiratório e o Physiotherapist/Physical Therapist, ou seja, aqui temos mais funções.

Para a Fisioterapia ser mais reconhecida, temos que seguir o exemplo deste estudo e focar na Qualidade da Assistência, já sabemos que Mobilizar é importante, mas temos que incorporar a Cultura da Mobilização no nosso cotidiano.


Até a próxima.


Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa





Referência:
1. Williams DM, Weblin J, Atkins G, Bion J, Williams J, Elliott C, Tony Whitehouse T, Catherine Snelson C. Enhancing rehabilitation of mechanically ventilated patients in the intensive care unit: A quality improvement project. Journal of Critical Care. 2015;30:13–8.


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