23 de fevereiro de 2016

Inspirômetro de Incentivo em pacientes com Derrame Pleural: Um lampejo de vida desta técnica?

Olá colegas.

Post em colaboração com os colegas Wesla Neves, Fernando Batista, Ângelo Roncalli e Ivens Giacomassi.


Em outras postagens, como a Vamos falar de Inspirações Profundas? e a Inspirações com elevação de membros superiores: Uma reflexão., falamos sobre a ausência de efeitos do uso do inspirômetro de incentivo, sobre certos perfis de pacientes, como no pós-operatório de cirurgias abdominais e torácicas.

Mas, surge um lampejo de sobrevida para este fatídico artefato. 

O estudo The effects of a physiotherapy programme on patients with a pleural effusion: a randomized controlled trial testou a utilização de Fisioterapia Respiratória + Tratamento Padrão em comparação ao Tratamento Padrão somente. Foi realizado um Ensaio Clínico Randomizado, no Hospital Universitário San Cecilio em Granada-ESP, com 104 pacientes com Derrame Pleural.
Os desfechos foram Função Pulmonar (CVF, VEF1 e FEF25-75%), Radiografia (proposta uma escala de Likert, com a classificação dada por um Radiologista - 0: sem derrame até 10: derrame massivo) e Tempo de Internação Hospitalar.

O Grupo Controle foi submetido a tratamento médico (medicamentos e/ou drenagem pleural), já o Grupo Fisioterapia Respiratória (FR), além do tratamento médico, recebeu Inspirometria de Incentivo à Volume + Freno Labial + Mobilização (no leito ou na poltrona, com adição de exercícios ativos - assistidos ou livres. Não foram descritos exercícios resistidos, deambulação ou cicloergometria). Os pacientes do Grupo FR receberam o protocolo por 40-60 minutos durante 5x na semana até a alta hospitalar.
Os grupos foram semelhantes quanto à características clínicas e demográficas.

Os resultados foram bem interessantes, já que o Grupo FR apresentou melhora na Função Pulmonar (CVF e FEF25-75%) e menor tempo de internação hospitalar (26,7 vs 38,6 dias p=0,014). Fazendo uma análise do subgrupo, o Grupo FR obteve importante melhora nos desfechos, comparando o início da internação até a alta, já no Grupo Controle, não houveram alterações significativas no mesmo período.

Os resultados são realmente promissores, dado o desenho do estudo, porém, mais uma vez caímos no erro de associar técnicas. 

Me estranhou muito o fato de não haver a utilização de Deambulação, Exercícios Resistidos ou até mesmo o uso de Cicloergômetro, já que são técnicas que possuem ótimo efeito em variáveis respiratórias, além de esse fato, impactar diretamente na Funcionalidade dos pacientes. Claramente a preocupação foi com o Sistema Respiratório. Se houvessem mais subgrupos com Inspirometria somente vs Mobilização somente vs Exercícios Respiratórios somente, os resultados seriam os mesmos?

Outro ponto de confusão é: Qual das técnicas é determinante para os resultados?

Alguém pode defender que o conjunto da obra é o que faz efeito, mas o ponto é, alguns trabalhos como Does the addition of deep breathing exercises to physiotherapy-directed early mobilisation alter patient outcomes following high-risk open upper abdominal surgery?, demonstraram que quando comparados Inspirometria de Incentivo + Deambulação vs Inspirometria de Incentivo somente vs Deambulação somente, a Deambulação foi o fator determinante para a melhora dos desfechos estudados. 

Devemos nos atentar para a realização de terapias realmente eficazes e nos concentrarmos em associar técnicas com efeitos benéficos já demonstrados, como Mobilização,  Pressão Positiva e em alguns casos, Treinamento Muscular Inspiratório.

Até a próxima!!!

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP

LinkedIn: Caio Veloso da Costa





Referências:

1- Valenza-Demet GValenza MCCabrera-Martos ITorres-Sánchez IRevelles-Moyano F. The effects of a physiotherapy programme on patients with a pleural effusion: a randomized controlled trial. Clin Rehabil. 2014;28(11):1087-95.

2- Silva YRLi SKRickard MJ. Does the addition of deep breathing exercises to physiotherapy-directed early mobilisation alter patientoutcomes following high-risk open upper abdominal surgery? Cluster randomised controlled trial. Physiotherapy. 2013 Sep;99(3):187-93. 

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