Olá colegas.
A Fraqueza Muscular Adquirida na UTI é uma entidade de alta prevalência e associada a alta morbidade e mortalidade. Além disso, está relacionada a menores níveis funcionais e mobilidade, mesmo após a alta, podendo haver sintomas de fraqueza e fadiga após 5 anos de alta. É estimado que metade dos pacientes economicamente ativos não retornam ao trabalho em um ano.
Para minimizar a FMAUTI e melhorar desfechos como Tempo de Internação Hospitalar e Mobilidade, um Programa de Fisioterapia baseada em melhora de Força Muscular global, Endurance e Mobilidade progressiva é indicado para esse perfil de pacientes.
Alguns estudos falharam em demonstrar que a continuidade da terapia física após a alta da UTI consegue melhorar esses desfechos. Mas as coisas estão mudando...
O estudo Can Early Rehabilitation on the General Ward After an Intensive Care Unit Stay Reduce Hospital Length of Stay in Survivors of Critical Illness? teve como objetivo avaliar se um programa de Fisioterapia Intensiva (alta dose) é capaz de melhorar desfechos como Funcionalidade, Tempo de Internação Hospitalar e Custos Hospitalares.
Foi realizado um ensaio clínico randomizado com 53 pacientes admitidos na enfermaria.
O Grupo Fisioterapia Intensiva (FI) elaborou um programa terapêutico individual baseado da seguinte forma:
1- Até 2 horas de terapia por dia, 5 vezes por semana;
2- Exercícios Respiratórios + Treino de Força + Endurance + Eletroestimulação
3- Treino de Força: 1-3 séries de 12-15 repetições de grandes grupos musculares (Coxas, panturrilhas, glúteos, tronco e cintura escapular. 3 vezes por semana;
4- Endurance: 10-30 minutos, 50-80% da Frequência Cardíaca Máxima durante Deambulação, Cicloergometria ou ambos. 5 vezes por semana;
5- Eletroestimulação: Quadríceps e Glúteos, Corrente bifásica, Frequência de 50 Hz, Largura de pulso de 0,35 ms, Tempo On/Off: 8/24 s. 30 minutos, 5 vezes por semana.
O Grupo Controle recebeu um sessão de 20 minutos, baseada em Exercícios respiratórios, Treino de Força, Endurance e Eletroestimulação, de acordo com a escolha do terapeuta.
Os desfechos foram Tempo de Internação Hospitalar, Funcionalidade (Early Rehabilitation Barthel Index), Capacidade Funcional (Teste de Caminhada de 3 minutos), Força Muscular (MRC), Custos Hospitalares.
A análise foi feita por Intenção de Tratar (com base no tratamento originalmente planejado e não no tratamento efetivamente administrado. Isto significa que os pacientes alocados a um determinado grupo de tratamento devem ser seguidos, avaliados e analisados como membros do grupo original específico, independentemente de sua aderência ao curso de tratamento planejado) e em Análise Por Protocolo (Análise realizada com base nos resultados de todos os pacientes que cumpriram todas as etapas do estudo, com a necessária aderência aos procedimentos prescritos).
Os resultados foram muito bons, já que o Tempo de Internação Hospitalar foi 7 dias a menos no Grupo FI, além de os Custos Hospitalares serem menores no Grupo FI (€17,316.38 vs €19,167.19 - mais de 2 mil euros de economia na Análise de Intenção de Tratar e €14,346.36 vs €19,167.19 - mais de 5 mil euros de economia na Análise Por Protocolo). Não foram encontradas diferenças significativas nos desfechos funcionais e de função muscular entre os grupos, apesar de haver melhora nesses marcadores.
Apesar da ausência de melhora nos desfechos funcionais, os resultados mostram que há uma custo-efetividade importante já que se os pacientes conseguem ser submetidos ao Protocolo de Fisioterapia proposto, há uma redução de 7 dias na internação e uma economia de até 5 mil euros (mais de 16 mil reais!!!).
Isso também mostra que devemos ter uma demanda adequada de pacientes para atender, pois não são todos os serviços que possuem uma relação de 6-5 pacientes para cada Fisioterapeuta, e esse estudo demonstrou como é importante um atendimento adequado com Duração, Dose e Intensidade, além de mostrar como Centros de Reabilitação são necessários dentro dos hospitais.
Serviços de Reabilitação de Hospitais como Einstein, Sírio-Libanês e outros estavam e estão certos em investir no Fisioterapeuta.
Até a próxima.
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa
Referências:
1- Bemis-Dougherty AR, Smith JM. What Follows Survival of Critical Illness? Physical Therapists' Management of Patients With Post−Intensive Care Syndrome. PHYS THER. 2013; 93:179-185.
2- Connolly B, Salisbury L, O'Neill B, Geneen L, Douiri A, Grocott MP, Hart N, Walsh TS, Blackwood B; ERACIP Group. Exercise rehabilitation following intensive care unit discharge for recovery from critical illness. Cochrane Database Syst Rev. 2015 Jun 22;(6):CD008632. doi: 10.1002/14651858.CD008632.pub2
3- Gruther W, Pieber K, Steiner I, Hein C, Hiesmayr JM, Paternostro-Sluga T. Can Early Rehabilitation on the General Ward After an Intensive Care Unit Stay Reduce Hospital Length of Stay in Survivors of Critical Illness?: A Randomized Controlled Trial. Am J Phys Med Rehabil. 2017 Feb 8. doi: 10.1097/PHM.0000000000000718.
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