2 de fevereiro de 2015

Fisioterapia Respiratória em UTI: Fazemos a diferença?

Olá colegas, em um post passado (Fisioterapia Respiratória prolonga Tempo de Ventilação Mecânica...), comentei sobre um estudo que demostrou que a Fisioterapia Respiratória aumentou o tempo de Ventilação Mecânica, mas o estudo apresentava vieses que comprometiam a aplicabilidade externa do mesmo.

Hoje vou trazer um estudo brasileiro, realizado em São Paulo que tinha como objetivo verificar se a Fisioterapia Respiratória apresentava bons resultados em desfechos como Tempo de VM, Mortalidade, Tempo de internação hospitalar e Infecção pulmonar, comparando a presença de fisioterapeuta por 24h na UTI contra 6hs.

Foi realizado um estudo coorte, mas com comparação entre dois serviços de Fisioterapia de hospitais diferentes, em um deles a presença do Fisioterapeuta era de 24hs, no outro a presença era somente de 6h por dia.


Foram estudados 146 pacientes, sendo excluídos os pacientes com câncer terminal e com Morte encefálica verificada nos primeiros dias de admissão. 


O protocolo de tratamento da Fisioterapia era semelhante em ambos serviços e consistia de Compressões Torácicas + Aspiração Endotraqueal + Mobilização de membros, apresentando uma média de 52 hs totais de Fisioterapia respiratória no serviço de 24hs vs 21 hs no serviço de 6h, sendo esta a única diferença significante entre as características dos grupos.

Os resultados foram bastante promissores, onde o serviço que apresentava Fisioterapeuta por 24hs, teve Menor Tempo de VM (10 dias vs 15 dias) com mais de 3 vezes maior a chance de sair antes da VM (p=0,0001 OR: 3,8), Menor Tempo de Internação Hospitalar (13,2 dias vs 21,6 dias) com 3 vezes mais chance de alta para esses pacientes (p=0,003 OR: 3,1) e Menor Taxa de Infecção Pulmonar (calculada pelo índice Nº de PAV/ Nº total de pacientes - 0,356 vs 0,616 p=0,0043).


Além disso a Mortalidade foi 15% menor com 24hs de Fisioterapia e a probabilidade de Morte foi 1,3 vezes maior no grupo com 6h de Fisioterapia.

São resultados muito expressivos, não acham?


Porém temos alguns pontos que temos que tomar cuidado na análise. Uma delas é que no serviço com 6h, o número de pacientes neurológicos foi maior (AVE; 11 vs 8 e TCE: 24 vs 4), sabemos que esse perfil de paciente tem maior tendência a maior Tempo de VM e Internação, e esses desfechos estão associados a menor Mortalidade, ou seja, isso foi determinante para os resultados e não podemos inferir que foi a presença de 24h do Fisioterapeuta que reduziu a mortalidade.

Além disso, comparar diferentes serviços para este tipo de desfecho pode confundir, já que diferentes hospitais, as vezes, apresentam (ou nem apresentam) protocolos institucionais diferentes (Sedação, Controle de Infecção, Antibioticoterapia, apesar de existirem Guidelines, e a existência de uma Diretriz, não necessariamente faz com que todos os profissionais a sigam).

Temos que destacar que foi citada Mobilização e não Mobilização Progressiva, com metas e objetivos de saída do leito, deambulação etc, sabemos que isso faz a diferença tanto nos desfechos estudados como na Capacidade Funcional.

Na minha visão, a condução de processos como o  Desmame e a Mobilização Progressiva bem como estarmos em contato com os protocolos de Retirada da Sedação e alguns aspectos do Bundle de prevenção de PAV é o que faz a diferença. Mas só estar presente 24 não é o fator primordial.

Em tempos de implementação da RDC-7 e presença de 18 horas na UTI, bem como a baixa taxa de adesão aos protocolos de mobilização progressiva evidenciada internacionalmente, essa é mais uma reflexão que temos que fazer.

Até a próxima.

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Hospital Sancta Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa





Referência.
1. Castro AAM, Calil SR, Freitas SA, Oliveira AB, Porto EF. Chest physiotherapy effect iveness to reduce hospitalization and mechanical ventilation length of stay, pulmonary infection rate and mortality in ICU patients.Respiratory Medicine. 2013;107:68-74









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