Saudações colegas!!!
Por Dra. Lívia Zalaf.
Sabemos que ao submeter
nosso paciente à um exercício físico podemos expô-lo à uma série de riscos
relacionados à sua condição clínica. Por isso, uma avaliação rigorosa deve ser
realizada, e dentro desta, há o nível das plaquetas. Presente no hemograma, as
plaquetas são células que possuem a propriedade de coagular o sangue. São
produzidas na medula óssea, e sua função é estancar uma hemorragia. O valor
considerado normal de plaquetas é 140.000/mm3 à 400.000/mm3, porém há uma série
de fatores que podem influenciar na produção e manutenção dessas células, resultando em uma plaquetose ou uma plaquetopenia.
A plaquetose
(número de plaquetas acima do valor normal) pode ser gerada por estímulo
medular por medicamento, transfusão sanguínea, hemorragias, estados
infecciosos, leucemia mielóide crônica, dengue, entre outras patologias. Pode
causar a formação de trombos e êmbolos. É importante lembrarmos que se o
paciente não está recebendo medicamento anticoagulante, a mobilização do membro
que apresenta o trombo pode causar o deslocamento do mesmo para outros locais e
gerar isquemias importantes, como o famoso TEP (tromboembolismo pulmonar). Se o
paciente está sob efeito do medicamento não há contraindicações relacionadas ao
níveis de plaquetas.
Em indivíduos
hipertensos podem haver alterações na função endotelial e consequentemente
aumento na agregação plaquetária, gerando maior resistência vascular e
desenvolvimento de aterosclerose e trombose. A atividade física regular está associada à
redução da tendência trombogênica pela diminuição da atividade coagulante e
aumento da atividade fibrinolítica, porém os estudos analisando os mecanismos
pelos quais o exercício modifica o processo hemostático ainda necessitam de
conclusões mais contundentes.
A plaquetopenia (número de plaquetas abaixo do
valor normal) pode ser gerada pela redução da produção medular ou pelo aumento
da destruição periférica em diversas doenças. Doenças congênitas, leucemias, e
infiltrações medulares são exemplos possíveis desses casos. Também bastante
comum em pacientes oncológicos, a plaquetopenia pode estar presente durante o
tratamento em função dos efeitos colaterais da radioterapia e da quimioterapia,
muitas vezes provocando a plaquetopenia grave (abaixo de 20 / 30.000 mm3).
Nesses casos há maior risco de sangramento e assim, submeter o paciente ao
esforço torna-se contraindicado, podendo provocar hematomas, sangramento nasal,
oral, e aparecimento de pequenas manchas puntiformes e avermelhadas na pele. Já
valores acima destes não são comumente discutidos na literatura em relação à
possíveis riscos oferecidos pelo exercício físico.
Podemos aqui citar brevemente alguns estudos sobre
a o exercício físico em condições de plaquetopenia. No estudo de Wiskemann
et al. (2010) foram testados e avaliados os benefícios do exercício antes,
durante e após o transplante de medula óssea alogênico em pacientes com valor
mínimo de plaquetas em 20.000 mm3, sendo esse um tratamento comum em pacientes
oncológicos. Observou-se que o exercício físico parcialmente supervisionado
iniciado antes do transplante e mantido após o mesmo, reduz significantemente a
fadiga relacionada ao câncer. Além disso, houve melhora na capacidade física,
funcionalidade, bem-estar, e dor. No estudo de Elter et al. (2009), foi utilizado um grupo de 12
pacientes com problemas hematológicos devido à quimioterapia e com contagem de
plaquetas também acima de 20.000mm3 sem utilização de concentrado de plaquetas,
ou com plaquetopenia abaixo de 10.000 com reposição. Todos foram submetidos ao
mesmo período de três meses de treino aeróbico, três vezes por semana, por 15 a
30 minutos. A contagem final de plaquetas foi de 27.000, com mínimo de 8.000.
Nenhum paciente apresentou sangramento com plaquetas acima de 10.000. De acordo com a Associação Médica
Brasileira (AMB, 2012) o treino ergométrico supervisionado pode ser seguro em
pacientes com câncer e plaquetopenia grave induzida por quimioterapia em
pacientes com acima de 10 mil plaquetas.
A
experiência que tive durante os dois anos de residência em Fisioterapia em
Oncologia pela Universidade Federal de São Paulo e a que tenho atualmente com
pacientes oncológicos no Hospital São José – Hospital Beneficência Portuguesa -
se assemelham ao que os artigos citados acima referem, considerando cerca de 20.000
mm3 o valor mínimo de plaquetas para que o paciente realize exercícios de forma
segura. Vale lembrar que apesar da literatura nos trazer um valor mínimo de
referência de plaquetas para a realização do exercício físico, devemos
considerar também outros valores importantes como por exemplo o da hemoglobina
- proteína que transporta oxigênio aos tecidos. Não devemos esquecer, também,
da importância de uma avaliação bem realizada da condição clínica do paciente
como um todo, respeitando sempre a especificidade de cada caso e sendo assim
possível realizar exercícios de forma confortável, eficiente e, principalmente,
segura para o paciente e para o fisioterapeuta.
Lívia Ribeiro Zalaf
Fisioterapeuta do Hospital São José (Hospital Beneficência
Portuguesa de São Paulo)
Especialista em Fisioterapia em Oncologia pela
UNIFESP (2015)
Fisioterapeuta formada na Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP/2012)
Contato: lizalaf@gmail.com
Referências:
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3- EL-SAYED MS. Exercise and
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