Na graduação, aprendemos que o principal norte do ajuste ventilatório é a Gasometria Arterial, sendo a PaCO2 e seus valores normais, uma meta a ser batida. Talvez a exceção seja o caso de Neuroproteção em pacientes com quadro de Hipertensão Intracraniana, lembrando que a Hiperventilação Profilática deve ser evitada.
Em alguns colegas Fisioterapeutas, percebi que existe um medo descomunal da Hipercapnia, na maioria das vezes a justificativa é a manutenção da normalidade e de alteração do pH, e para isso fogem das recomendações da nova Diretriz de VM em relação ao Volume Corrente utilizado, colocando o paciente em potencial risco com isso.
Com o conhecimento dos efeitos deletérios que a VM traz, é possível ter a noção que utilizar Volume Corrente acima de 8 mL/kg pode induzir ao Volutrauma e esse fato por si, gera Lesão Pulmonar, podendo aumentar o tempo de VM devido ao inadequado manejo da VM.
Então, utilizar 6-8 mL/kg seria uma saída para evitar essa lesão, mas em alguns casos, essa faixa de volume corrente, pode gerar aumento do CO2. Mas devemos nos preocupar com isso?
Quando estamos falando de pacientes críticos, devemos ter a noção que o estado metabólico geralmente está alterado, portanto, tendendo à Acidemia. Mesmo com o potencial que o CO2 tem para redução do pH através de aumento da formação de íons H+, alguns estudos estão demonstrando que a Hipercapnia possui fator protetor e até mesmo redutor das reações inflamatórias sistêmicas.
Quando utilizamos a faixa chamada ideal de volume corrente, estamos evitando Volutrauma e consequentemente, evolução da inflamação sistêmica induzida pela VM ou lesão direta (SDRA), fazendo com que a função pulmonar seja preservada ou pelo menos, essa lesão seja reduzida.
Lesão induzida pela VM |
Mas ao utilizar essa estratégia, devemos sempre monitorizar o pH, e tentar mantê-lo sempre acima de 7,3, já que a Acidemia pode levar a desnaturação de enzimas. Sem se esquecer que devemos evitar a Hipercapnia na presença de Lesão Cerebral Traumática e HIC.
Então, como o nome já sugere, Permita a Hipercapnia na sua prática e lembre-se de sempre usá-la com cautela.
Até a próxima.
Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta da UTI Geral do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela - AL
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
LinkedIn: Caio Veloso da Costa
Referências:
1. Laffey JG, O’Croinin D, McLoughlin P, Kavanagh BP. Permissive hypercapnia - role in protective lung ventilatory strategies. In: Pinsky MR, Brochard L, Mancebo J editors. Applied Physiology in Intensive Care Medicine. Springer-Verlag Berlin Heidelberg NewYork. 197-206.
2. Nardelli L, Rocco PRM, Garcia CSNB. Controvérsias acerca da acidose hipercápnica na
síndrome do desconforto respiratório agudo. Rev Bras Ter
Intensiva. 2009; 21(4):404-15
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