Olá pessoal, hoje temos uma convidada especial. O post de hoje escrito pela Residente Bianca Orestes, Fisioterapeuta do Programa de Residência Multiprofissional em Urgência e Emergência do Hospital São Paulo-UNIFESP do qual sou Supervisor de Estágio.
A reabilitação em cuidados paliativos é possível?
Quando pensamos em
reabilitação em um paciente paliativo o que nos ocorre primeiro?
O cuidado paliativo está mais presente do que possamos imaginar em nosso cotidiano, pois há um
progressivo envelhecimento populacional, associado a um predomínio de doenças
crônico-degenerativas de evolução lenta, aumento de novos casos oncológicos
entre outros, que geram de forma direta comprometimento funcional e dependência. Muitas
vezes não paramos para refletir qual conduta realizar? O que ter como meta na
reabilitação?
O tema ainda é visto com muita desconfiança e as vezes encarado como "Omissão de Terapêutica", porém é justamente nesses casos em que há um aumento do Cuidar (Figura abaixo).
Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde - “cuidado
paliativo é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus
familiares, que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade da vida, através
da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação
e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e
espiritual”
Observando esta definição a reabilitação em Cuidados Paliativos parece algo
que pode ser dinâmico, levando em consideração todo o espaço que o paciente
está inserido e tudo que o envolve, a
família, a equipe, o meio externo, e claro, o próprio paciente, para que frente a todas as perdas decorrentes da doença, e nas limitações geradas, possamos
recuperar, manter ou modificar o seu grau de funcionalidade. E como faremos?
Vamos ampliar ainda mais nossa visão e trabalhar a comunicação não
verbal, olhar, tocar, observar em cada ação, o que modifica o paciente, e a
comunicação verbal, explicando, avaliando com o objetivo de aumento de
qualidade de vida.
E se ocorrer “não quero fazer nada”, “quero ficar sozinho”? Podemos adaptar nossas ações, trabalhando com a equipe, estudando o paciente em todas
as esferas, e se mesmo assim não conseguirmos, temos que entender que a nossa frustração pode vir a tona; porém temos que ter em mente que devemos respeitar autonomia do nosso paciente. Triste? Talvez não, estamos participando
sempre de alguma forma neste processo. Além disso, tentativa de metas flexíveis
e realistas com objetivos a curto prazo, reconhecer os pequenos avanços e
sucessos e incluir tudo o que faz parte do momento.
Pode parecer subjetivo, mas como
todo o planejamento de um
reabilitador este cuidado também traz
escalas, avaliação de funcionalidade específica para melhor conduzir nosso
tratamento.
Por todo este conceito de reabilitação, que não nos parece seguir a
idéia clássica de paciente no leito imóvel para um resultado deste deambulando
e com vida funcional, segue um preconceito e confusão de nosso papel no
paliativo, mas a idéia é de modificar e adaptar todas as nossas condutas, mesmo
realizando sedestação, deambulação com um único objetivo: melhorar a qualidade
de vida analisando todos os sintomas e melhora deles a partir de nossa
reabilitação.
Será que escrevi errado, sedestação beira leito? Não, escrevi para
refletirmos que esse procedimento pode ser um posicionamento de alívio, de
conforto respiratório, de melhora da dor, da autoestima, do despertar com a
família, enfim a finitude também é presente em nós, e será que não gostaríamos
de sentar quando estivermos nesta
situação?
De acordo com o World Journal Clinical Oncology, 2014 em artigo
publicado, menciona que apesar de a qualidade de vida ser diminuída nos
pacientes em cuidados paliativos, especificamente nos oncológicos, os que
realizaram programa de exercícios obtiveram
56% da melhora da funcionalidade resultando em melhora da qualidade de
vida.
Somando a isso para completar todo o processo de acompanhamento é
essencial que as equipes multiprofissionais estejam em transição para uma
transdisciplinaridade e que haja sempre uma decisão compartilhada. No final da
história o paciente e sua família serão beneficiados e acompanhados nesse
processo de finitude que tanto assusta.
Então vamos realizar junto com a
equipe essa mudança no olhar em um paciente que precisa de nós?
Até a próxima!
Referências:
Cook D, Rocker G.
Dying with Dignity in the Intensive Care Unit. N Engl J Med.2014;370:2506-14;
Eyigor S, Akdeniz S. Is exercise ignored in palliative cancer patients?.
World J Clin Oncol. 2014 August 10; 5(3): 554-559.
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