12 de outubro de 2014

Fisioterapia Respiratória prolonga Tempo de Ventilação Mecânica...

Sim, o título não está errado, de acordo com o estudo publicado na Intensive Care Medicine no ano de 2007, houve um tempo maior de VM nos pacientes que receberam Fisioterapia Respiratória...
E agora, o que vamos fazer???????
Quando colocamos como parte do tratamento dos nossos pacientes a Saúde Baseada em Evidências, temos que ter muita cautela na análise dos resultados dos estudos. Para alguém que não tem familiaridade com a leitura de artigos ou é um profissional de alguma área não correlata, pode interpretar incorretamente as informações e "espalhar" uma informação que algumas vezes não representa bem a realidade. Eu mesmo cheguei a ser questionado por um residente médico sobre esse estudo, que havia sido discutido em uma reunião clínica deles.
Pus este estudo de forma proposital, para convidá-los a fazer uma análise e ver que o resultado poderia ser outro. Este estudo, na época de sua publicação gerou muita polêmica, mas tudo contornado. 
Foi realizado um estudo Controlado, Randomizado e Cego na UTI do Hammersmith Hospital, em Londres.
O objetivo principal do estudo foi Determinar o impacto da Fisioterapia Respiratória no tempo de VM em pacientes de UTI. Os secundários foram Tempo de Internação Hospitalar e de UTI, Mortalidade e incidência de Pneumonia Associada à VM.
Forma estudados 180 pacientes em VM por mais de 48 horas (87 do Grupo Fisioterapia Respiratória  e 85 do Grupo Controle). Foram excluídos os pacientes com IRpA devido doenças neuromusculares ou por Derrame Pleural.
O Grupo FR recebeu terapia com objetivo de Expansão Pulmonar, Higiene Brônquica, Mobilização e Exercícios Respiratórios, já o Grupo Controle recebeu somente Aspiração Traqueal, Mudança de Decúbito e Mobilização, tendo o Grupo FR a liberdade de prescrever a terapia a vontade. Ambos os grupos tiveram Terapia de Resgate com Hiperinsuflação Manual e Aspiração caso necessitassem. 
O Desmame foi realizado baseado em Redução da PS se frequência respiratória menor que 25 rpm, PaCO2 e Eletrólitos normais e Relação PaO2/FiO2> 300, sendo extubado se PS< 10 cmH2O, PEEP< 10 cmH2O, tosse com expectoração; após isso era passado o paciente para CPAP. Os extubados e pacientes com CPAP, mas inconscientes eram considerados Desmamados.

Os resultados impressionaram até os autores. O Grupo FR teve 4 dias a mais de VM (que??!!!), 15 dias vs 11 dias com p:0,045, além disso o número de Terapias de Resgate foi maior também no Grupo FR 68 vs 51, porém sem diferença estatística. As outras variáveis como Mortalidade, Tempo de UTI e Hospitalar, Taxa de PAV e de Reintubação foi semelhante, bem como o APACHE II e o SAPS II.
A grande sacada é a análise das Características dos Grupos, apesar de ser um estudo Randomizado e Cego, o Grupo FR teve mais pacientes neurocríticos (24 vs 16) e esses pacientes receberam Fisioterapia Mínima por 72 horas até a estabilização da PIC. 
Apesar da tentativa de eliminação de Viés de Seleção, temos que ter a noção, que essas estratégias não eliminam o risco do mesmo, e os autores não conseguiram explicar o fato do Grupo FR ter mais pacientes dessa característica, que aumenta a tendência de maior tempo de VM.
Portanto, esse fato tira muito da Aplicabilidade, já que o Viés foi determinante para os Resultados e os autores acertadamente reconhecem o fato. E isso demonstra o cuidado que devemos ter ao ler um artigo e aplica-lo.

Até a próxima.

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta da UTI Geral do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela - AL
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP

LinkedIn: Caio Veloso da Costa



Referência
1- Templeton M, Palazzo MGA. Chest physiotherapy prolongs duration of ventilation in the critically ill ventilated for more than 48 hours. Intensive Care Med. 2007,33:1938-45.



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