8 de junho de 2014

Como prescrever a minha terapia? Physical Function ICU Test.

Olá pessoal. Prescrever tratamento fisioterápico no hospital, principalmente em UTI não é tarefa das mais fáceis, porém deve ser um dos nortes que devemos seguir.

Existem algumas ferramentas que podem nos auxiliar nessa tarefa. Vou discutir um pouco sobre uma dessas.

A Physical Function ICU Test é uma proposta, bem interessante, de um grupo de Fisioterapeutas australianos capitaneados pelas Professoras Elizabeth H Skinner, Linda Denehy entre outros. O objetivo delas, foi criar um instrumento que fosse a base para uma prescrição de exercício em pacientes internados em UTI.

O teste tem quatro itens que são avaliados: De sentado para em pé, Cadência em Marcha estacionária (passos/min), Força de Extensores de Joelho e Força de Flexores de Ombro.

1. De sentado para em pé: Com os pacientes na poltrona, é avaliado a necessidade de ajuda por uma ou duas pessoas, para o paciente ficar de pé (0-3, sendo 0= Não realiza mesmo com auxílio de duas pessoas  e 3= sem ajuda);

2. Cadência em Marcha Estacionária: Número máximo de passos possível sem tempo limite. Avaliado a cadência (0-3, sendo 0= Nenhum passo e 3= Acima de 80 passos/min.;

3. Força de Extensores de Joelho e Flexores de Ombro: Utilizado a Avaliação de Oxford, neste teste (0= Grau 0, 1 e 2 e 3= Grau 5).




Após a avaliação se tem um Escore de  0 a 12 (original) ou de 0 a 10 (modificado).


Mas como isso poderia nos ajudar a prescrever a nossa terapia?

Após a proposta de criação deste instrumento, também foi proposta uma intervenção através da escala, por meio de um estudo piloto.

A prescrição foi feita da seguinte forma:

1. 3 séries de 70% do tempo máximo no teste de Marcha estacionária com um tempo máximo de 15 minutos sempre tentando manter a cadência média encontrada;

2. Não conseguindo ficar 15 minutos Marchando ou Deambulando, tentava-se complementar a terapia com Treino de Sentar-Levantar até se obter 15 minutos de terapia;

3. Mesmo não conseguindo com essas duas terapias combinadas, era acrescentado Exercício de flexão de ombro sem resistência até se obter os 15 minutos;

4. A terapia foi feita por 6 dias/semana, uma vez ao dia se o paciente estava em Ventilação, progredindo para duas vezes se o paciente estava a mais de 4 horas por dia fora da VM;

5. O momento de avaliação inicial foi quando os pacientes eram traqueostomizados e o reteste feito após o Sucesso no Desmame.

6. Posteriormente o objetivo era aumentar gradualmente para 30 minutos e depois para 60 minutos.












Apesar de simples e de só tomar 15 minutos com o paciente, o resultado foi promissor, conforme a tabela a terapia resultou em um incremento muito bom no número de passos dados, bem como houve melhora na cadência e no tempo de execução, além disso houve melhora no número de repetições de flexão de ombro.

Além disso foi feita correlação com outros testes para verificar a Utilidade Clínica, a Segurança, Reprodutibilidade e Validação (na Austrália). Foi encontrada Moderada Correlação do Teste com os Testes Timed up and go, Teste de Caminhada de 6 Minutos e MRC, além disso, foi encontrado que quanto maior o score na admissão, maior chance de alta para casa e menor tempo de internação hospitalar. 

Além dos resultados positivos, os estudos realizados foram Ensaios Clínicos Randomizado, um deles cego com amostra calculada e as Características Demográficas eram semelhantes. Foram excluídos os pacientes com FiO2 acima de 60%, PEEP maior que 8 cmH2O e lesão permanente (como TRM ou AVE extenso), além disso eram retirados temporariamente aqueles que instabilizavam. Isso nos dá uma tranquilidade maior na análise dos dados.

Bom pessoal, espero ter ajudado vocês a ter um norte para a partir de agora, prescrever a nossa terapia e garantir um melhor tratamento para os pacientes, pois eles merecem.

Até a próxima.

Caio Veloso da Costa
Fisioterapeuta do Pronto Atendimento Sanca Maggiore - Prevent Senior
Especialista em Fisioterapia Intensiva - Adulto pela ASSOBRAFIR/COFFITO
Especialização latu sensu em Saúde do Adulto e do Idoso com área de concentração em Urgência e Emergência pela Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar da UNIFESP
Professor da Liga Nacional da FisioIntensiva
LinkedIn: Caio Veloso da Costa


Referências.
1. Skinner EH, Berney S, Warrillow S, Denehy L. Development of a physical function outcome measure (PFIT) and a pilot exercise training protocol for use in intensive care unit. Crit Care and Resusc. 2009;11(2):110-115
2. Denehy L, Berney S, Skinner E, et al. Evaluation of exercise rehabilitation for survivors of intensive care: protocol for a single blind randomised controlled trial. Open Crit Care Med J. 2008;1:39–47.
3. Denehy L, de Morton NA, Skinner EH, Edbrooke L, Haines K, Warrillow S, Berney S. A Physical Function Test for Use in the Intensive Care Unit: Validity, Responsiveness, and Predictive Utility of the Physical Function ICU Test (Scored). Phys Ther. 2013;93(12):1-10.

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