Saudações colegas, com muito prazer convidamos a Fisioterapeuta Thais Lucia Pinheiro para falar sobre a Fisioterapia em mulheres com Câncer de Mama e de sua experiência com esse perfil de pacientes.
Por Thais Pinheiro.
As
neoplasias mamárias são o tipo de câncer que mais acomete as mulheres, depois
do câncer de pele não melanoma. Segundo o INCA há uma expectativa de surgimento
de cerca de 57.120 novas mulheres diagnosticadas anualmente no Brasil por esta
doença, e este número só vem crescendo...
A
fisioterapia precoce tem como objetivo prevenir complicações que poderão
ocorrer caso não se tenha o adequado conhecimento dos fatores prognósticos. Do
ponto de vista clínico, os mais importantes são o tamanho do tumor e o
comprometimento axilar. O conhecimento dos fatores prognósticos é fundamental
na determinação dos programas fisioterapêuticos.
A
prevenção de complicações deve estar presente em todas as fases do câncer de
mama: no diagnóstico; no tratamento (quimioterapia, radioterapia,
hormonioterapia e cirurgia); na recorrência da doença e nos cuidados
paliativos. É fundamental iniciar um programa fisioterapêutico precocemente,
quando as pacientes ainda não apresentam complicações, como limitações de
movimentos, dor, linfedema, aderência cicatricial e fibrose dos coletores
linfáticos. No entanto, muitas são encaminhadas tardiamente, o que diminui a
probabilidade de recuperação. Nesses casos a fisioterapia também auxilia na
prevenção e/ou diminuição de quadros de fadiga muscular e náuseas.
Quando
as pacientes tem contato com o fisioterapeuta já no pré operatório, tem
oportunidade de falar sobre suas ansiedades, tirar dúvidas sobre curativos,
pontos e movimentação do braço. Ainda nesse período, a notícia sobre a doença e
intervenção cirúrgica, leva à paciente inconscientemente adotar posturas de
tensão muscular na região do pescoço e ombros. Por isso nessa fase já é importante
que o fisioterapeuta avalie a presença de alterações posturais e tensionais,
avalie a função do ombro e a força muscular dos braços e oriente a paciente
como será o acompanhamento no pós-operatório e identificar possíveis
complicações.
A fase
do pós operatório imediato tem como objetivo identificar alterações
neurológicas ocorridas durante o ato operatório (n. intercostobraquieal e n.
torácico longo), presença de dor, edema linfático precoce e alterações na
dinâmica respiratória. Já ao decorrer do tratamento, o propósito é a
recuperação funcional e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida para a
paciente.
O
fisioterapeuta irá orientá-la a posicionar o braço na cama com o auxílio de
travesseiros e orientar exercícios leves para o braço, assim como realizar
exercícios respiratórios e deambuação. Nessa fase os exercícios respiratórios
são muito importantes, eles ajudarão a recuperar a função pulmonar e prevenir
complicações respiratórias. O uso do sutiã compressivo é muito importante, ele
ajuda a pele a colar e evita o inchaço na mama e tórax. Nessa fase ainda o
fisioterapeuta ensinará a fazer a automassagem, que nada mais é do que uma
drenagem linfática realizada pela própria paciente afim de ajudar a prevenir a
presença de inchaço no membro superior homolateral a cirurgia.
Se não
houver complicações pós-operatórias, em alguns dias a paciente estará de alta
hospitalar, indo para casa com os pontos e com os drenos, é importante alertar
a paciente que não esqueça que os cuidados e a automassagem devem continuar
sendo feitos em domicilio. Nas primeiras semanas, provavelmente a paciente
ainda estará com o dreno aspirativo e com os pontos, portanto as orientações
são de não levantar o braço acima de 90º para que a ferida operatória não abra,
pois somente na avaliação, a amplitude de movimento é livre. Em alguns casos o
médico e o fisioterapeuta podem liberar a movimentação livre do braço de acordo
com o limite de dor.
Os
recursos analgésicos (TENS, crioterapia, mobilização passiva, técnicas de
relaxamento muscular, acupuntura) complementam o tratamento fisioterapêutico
que pode ser medida pelo grau de independência alcançado pela paciente,
proporcionando alívio da dor, diminuindo os riscos de infecção, aumentando a
mobilidade de membros superiores e reduzindo a necessidade de medicamento como
analgésicos.
Durante
o período de internação o enfoque é global, prevenindo, minimizando e tratando
complicações respiratórias, motoras e circulatórias. A dor é uma das principais
e mais frequentes queixas da paciente, devendo ser valorizada, controlada e
tratada em todas as etapas da doença, as diversas técnicas para analgesia
caracterizam a fisioterapia em oncologia.
Thais Lucia Pinheiro - Fisioterapeuta
Especialista em Saúde da Mulher - ABRAFISM/COFITTO
Especialização
em Fisioterapia em Ginecologia - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Especialização
em Ergonomia - Universidade Gama Filho
Mestranda
em Ginecologia pela disciplina de Mastologia - Universidade Federal de São
Paulo - UNIFESP
Preceptora
da Especialização de Fisioterapia em Ginecologia e da Residência
Multiprofissional em Saúde da Mulher da Universidade Federal de São Paulo -
UNIFESP
Coordenadora
da Academia VO2 Personal
Conselheira
do Caderno de Uroginecologia da Revista Fisioterapia Brasil
Contato: thaispin@hotmail.com
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